Benefícios do Exercício físico no combate ao Covid-19 e à monotonia do confinamento
Introdução:
Como sabemos, o exercício físico tem inúmeros benefícios associados à saúde mental e física. Estes, intensificam-se ainda mais, e são ainda mais valiosos, quando colocamos na perspetiva da nossa situação atual, e tudo o que a mesma implica. Numa realidade em que nos vemos privados da nossa rotina normal, de tudo o que estávamos habituados, o exercício físico mostra-se como um aliado ao combate a esta monotonia associada ao confinamento, e ao covid-19 em si. Até o próprio exercício físico encontra-se condicionado, pois os ginásios estão fechados ou condicionados, os parques públicos estão restritos, e as competições (para quem é atleta de alguma modalidade) estão também paradas. Mas se houver o mínimo de imaginação, curiosidade e de força de vontade, há toda uma panóplia de opções para as pessoas manterem-se ativas, e acima de tudo, saudáveis.
Enquadramento teórico:
No que toca à saúde mental, sabemos que o exercício físico pode trazer inúmeras vantagens. Tanto a nível de nos abstrairmos um pouco da situação atual, ocupando o pensamento com assuntos mais agradáveis, como também para nos sentirmos melhor e mais ativos. Sendo que grande parte da população está muito tempo em casa, e inativa, o exercício físico torna-se como que um aliado ao combate desta situação. Os ditos “passeios higiénicos” são um perfeito exemplo de atividade física leve, e que tem uma componente mesmo muito importante em termos da saúde mental (e física). A evidência científica comprova que o exercício físico, traz vários benefícios ao sono e ao combate dos transtornos que a ele se associam.
É sempre fulcral ter pelo menos 7/8h de sono todas as noites, mas nesta fase, torna-se absolutamente imprescindível estabelecer um horário de descanso consistente, pelas razões que já foram enunciadas. Há também evidência científica de que o exercício físico é um forte aliado no combate aos transtornos de humor, tais como a falta de motivação, a ansiedade, a depressão e o stress, que como se sabe, vieram a ser ainda mais evidenciados desde há 1 ano, quando toda esta realidade veio condicionar a nossa vida em praticamente todos os aspetos. Por todas as razões associadas a esta pandemia, torna-se perigosamente fácil desenvolver ou agravar, algum tipo destes transtornos, que como se sabe, são altamente perigosos. Assim, por todas estas razões, o exercício físico é uma importante peça no combate a esta realidade em que vivemos.
Em relação aos benefícios do exercício físico para a saúde física e motora, que são talvez mais óbvios ou espectáveis, podemos dizer que são absolutamente imprescindíveis para a manutenção de uns bons índices físicos e de uma boa forma física, e para o não agravamento ou decréscimo da mesma, no caso de pessoas já sedentárias previamente a este confinamento. Por exemplo, é sabido que uma pequena percentagem da população aumentou o seu peso, durante a primeira quarentena. Este aumento, talvez pudesse ter sido revertido, ou pelo menos minimizado, se a população tivesse conseguido manter-se minimamente ativa, mesmo tendo em conta as condições atuais. É também sabido que a manutenção de pequenos períodos de atividade física leve, já traz bastantes benefícios, nomeadamente a pessoas sedentárias. O exercício físico fortalece também o nosso sistema imunitário, que mais que nunca, é indispensável que esteja na sua melhor versão, caso tenhamos o azar de contrair este vírus. Este é também bastante importante, se já tivermos contraído o vírus, de modo a o podermos combater diretamente, assim como também atingir a imunidade adquirida (mesmo que apenas durante alguns meses). Sobre este último tópico, devido ao caracter relativamente recente deste vírus, ainda é incerto o tempo em que cada pessoa fica imune à variante do vírus que a infetou. Assim, teoricamente, pessoas sedentárias têm um maior risco de ter complicações mais graves devido a este vírus, comparativamente a pessoas ativas. Este é também um tópico que pode não ser assim tão linear, pois como sabemos, o sistema imunitário é bastante relativo a cada pessoa. Como decerto já ouvimos falar, tanto pessoas completamente saudáveis podem ter complicações bastante graves, devido ao vírus, como também pessoas muito pouco saudáveis podem não ter qualquer tipo de complicação, derivado desta situação. Existe evidência científica de que a prática de exercício físico vigoroso, até por menos de 1h, aumenta a concentração de glóbulos brancos e de citoquinas, que são respetivamente, agentes principais de defesa do organismo e substâncias mensageiras polipeptídicas que atuam de forma autócrina, parácrina e em alguns casos endócrina, não só, mas também no auxílio do sistema imunitário.
O exercício físico promove ainda a libertação de mioquinas, que se traduzem por ser também citoquinas, que são produzidas e libertadas pelo tecido muscular, aquando da sua contração. Sendo que aqui, entra o papel do exercício físico, como agente de promoção desta contração muscular. Estas mioquinas estão associadas à regulação autócrina, parácrina e endócrina do organismo/metabolismo, como já foi referido anteriormente, ou seja, estas atuam na regulação do metabolismo do próprio músculo, como também no metabolismo de outros órgãos e tecidos. Alguns destes podem ser por exemplo, o tecido adiposo, o fígado, e até mesmo o próprio cérebro. As mioquinas, e a quantidade que é libertada para a circulação, têm assim uma relação direta com a quantidade de exercício físico que determinada pessoa faz. Existe também evidência científica de que estas substâncias que resultam da contração muscular, tem um fator protetor contra diversas doenças, entre elas, a diabetes, a obesidade ou o cancro. E o covid-19 não é exceção. Uma das mioquinas que se mostra como “útil” no combate à covid-19, é a irisina. Muito resumidamente, a irisina é uma hormona, que mediante a contração muscular, atua nos depósitos de tecido adiposo subcutâneo, fazendo com que os mesmos passem de brancos a castanhos (que têm um maior efeito termogénico), o aumento da biogénese mitocondrial e do metabolismo oxidativo. Mas em relação ao covid-19, há evidência de que a substância tem efeito modulador em genes associados à maior replicação do covid-19 dentro de células humanas, ou seja, houve evidência de que a irisina diminuiu a expressão de alguns dos genes do covid-19. Outra mioquina, onde também se encontra alguma evidência que pode ajudar a combater o covid-19 é a interleucina-6 (IL-6). A IL-6 é um potente agente anti-inflamatório, que regula toda uma rede de mediadores inflamatórios. Esta pode não só combater, como ajudar a prever um possível agravamento/evolução da doença. Ou seja, quando uma pessoa contrai o vírus, o nível/quantidade desta substância aumenta exponencialmente, o que permite aos profissionais de saúde identificá-lo, e agir com uma maior eficácia. No entanto, apesar destes “fatores positivos”, a concentração exagerada desta molécula pode levar a uma “tempestade de citoquinas”, que se traduz por um quadro de hiperinflamação, o que contribui para o agravamento desta patologia. No que toca a outras mioquinas, ainda não há qualquer evidência sobre o seu efeito no combate do covid-19.
Conclusão:
Assim, conseguimos entender a panóplia de efeitos positivos, e a quantidade de maneiras diferentes que esses efeitos podem ser alcançados, que o exercício físico pode trazer ao combate desta situação, e do covid-19 em si. É imprescindível que nos consigamos manter saudáveis a todos os níveis, porque a saúde não se traduz apenas pela ausência de doenças, neste caso do covid-19, mas sim também por todo um bem-estar físico, social e psicológico/mental. A nível social e psicológico, como foi referido, o exercício físico funciona como uma forma de nos abstrairmos da situação atual, e de certa forma, ocuparmos os nossos pensamentos com coisas melhores e mais positivas. A nível físico, o exercício físico vai possibilitar às pessoas manter ou melhorar a sua condição física, e até eventualmente, combater o covid-19 em si, por meio da contração muscular (mioquinas).
Duarte Lima, Estagiário Aquafitness Marisol
Bibliografia:
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Cid, Luís; Silva, Carlos; Alves, José – Actividade física e bem-estar psicológico – perfil dos participantes no programa de exercício e saúde de rio maior
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Jong Han Lee and Hee-Sook Jun – Role of Myokines in Regulating Skeletal Muscle Mass and Function
Maria Fernanda Ziegler – Hormônio do exercício modula gene relacionado à replicação do coronavírus, 2020
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/08/11/hormonio-do-exercicio-modula-gene-relacionado-a-replicacao-do-coronavirus.htm?
Frontiers in Immunology[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]